Eleições nos EUA: Impactos no Brasil.
Nas últimas semanas muito se ouviu falar sobre as eleições norte-americanas nos jornais, e por mais que pareça um assunto distante e sem relação alguma conosco aqui no Brasil, os resultados das urnas norte-americanas afetam muito nosso país.
Como as eleições do outro lado do continente poderiam nos afetar? Primeiramente, já não é novidade o apreço que nosso Presidente possui por Donald Trump, apesar dessa relação de aproximação ideológica não ter garantido muitos ganhos econômicos ou políticos para o Brasil. Agora que já sabemos os resultados, as relações podem ficar estremecidas, pois o alinhamento entre o Brasil e os Estados Unidos ocorre essencialmente em função da ideologia que Trump representa, isto é, o nacionalismo exagerado, o conservadorismo, discursos inflamados e pautas antiglobalistas. Já o recém-eleito Joe Biden possui uma abordagem mais moderada e um discurso polido, além de uma agenda mais voltada para temas como a promoção dos direitos humanos, preservação do meio ambiente, multilateralismo e combate às fake news, além de prometer uma resposta adequada à pandemia do Coronavírus, que não foi vista no mandato de Donald Trump.
Somado ao descontentamento de Bolsonaro com a derrota de Trump nas urnas, que pode gerar atrito entre os países e eventuais perdas econômicas e afastamento das relações diplomáticas, Biden tem como uma de suas propostas o enrijecimento das políticas ambientais e citou em seu discurso, após o resultado das apurações dos votos, as queimadas brasileiras como exemplo de condutas que não serão toleradas, podendo gerar sanções para o governo brasileiro. Além disso, a vitória de Biden representa uma resposta simbólica de que as pautas ideológicas do adversário estão perdendo força, ao menos nos grandes centros urbanos norte-americanos, onde Biden venceu com maior diferença de votos.
O futuro das relações exteriores brasileiras ainda é incerto, mas pode-se dizer que caso nosso governo não flexibilize o posicionamento ideológico, corremos o risco de nos isolarmos ainda mais, com a perda do apoio norte-americano e com a política na América do Sul tomando um rumo contrário à agenda anti-globalista de Bolsonaro nos últimos anos, o Brasil vêm perdendo força política regional.
A fragilização das relações entre os países da América do Sul, a não-ratificação do acordo entre Mercosul e União Européia e o distanciamento da China são indicadores de que a política externa brasileira precisa de uma nova abordagem, caso contrário o Brasil ficará isolado, é necessário colocar o Brasil acima de ideologias, sejam elas quais forem, pois as eleições norte-americanas podem servir como um grande termômetro para prever o que está por vir no sistema internacional, basta sabermos interpretar e nos adaptar.
Texto produzido por Mirela Melleiro, graduanda de Relações Internacionais, na Universidade São Judas Tadeu.