O que muda no cenário internacional com a aproximação entre China e Afeganistão
Historicamente, o grupo fundamentalista islâmico, o Talibã, foi estabelecido durante o fim da invasão soviética no decorrer da guerra fria, por pessoas que desejavam a preservação das ideias do Alcorão, sendo o governo legal do Afeganistão durante anos. Entretanto, após duas décadas de conflitos, entre a invasão soviética e a guerra civil, a região foi destruída por genocídios e violações dos direitos humanos. Desse modo, os Estados Unidos, desde 1977, apoiavam o grupo, financiaram, armaram e usaram indevidamente o que chamam de terroristas, combatentes mojahedin, ISIS, Al-qaeda para obter lucro político e econômico, controle e exploração de território em busca de matéria prima.
Em tese, o marco da guerra fria foi uma das consequências que ainda causará anos de impactos futuramente, principalmente pelas intrigas imperialistas que é causada no Afeganistão, por estar localizado em um ponto geográfico estratégico. Os recentes acontecimentos no Afeganistão e o processo político evidenciam claramente, o jogo geopolítico sendo jogado, onde potências internacionais estão se baseando em interesses pessoais. O país afegão, é visto na geopolítica como o ‘heartland’ por ser uma área rica em recursos naturais, região central da Eurásia, desse modo, Estados expansionistas buscam bens materiais pelo país através de acordos e interesses há décadas. Potências como China e Rússia, apoiaram o novo governo talibã, mesmo o território sendo a fonte de violação de direitos humanos e genocídio, apenas a procura de fronteiras geopolíticas para a sua ascensão.
Parafraseando os pensamentos do geógrafo Mackinder, essa zona da Eurásia, onde o Afeganistão está localizado, englobava as áreas agrícolas da parte europeia da Rússia, se estendia por vastos territórios até a Ásia central e chegava até os bosques e as planícies da Sibéria, um território rico em recursos inexplorados como o carbono, a madeira e outros minerais (BBC, 2020). De forma mais simplista, o desenvolvimento de um povo em uma sociedade é principalmente influenciado por sua situação geográfica, e que uma sociedade que se moldou a um território geográfico, iria ampliar os limites de seu Estado. Por esses motivos, grandes potências tentam fechar acordos para ter acesso a este diferencial geográfico.
Durante a retomada do talibã no Afeganistão, após tropas norte-americanas irem embora, a China propôs um plano de paz de três pontos para o Afeganistão, e na semana passada nomeou um novo enviado especial para as negociações, o diplomata Yue Xiaoyong, em um sinal de que pretende um papel de maior relevância no processo (EL PAÍS, 2021)
Nesse cenário, é importante ressaltar o grande projeto da rota de seda chinês, que é um projeto de expansão terrestre das suas rotas comerciais, pretendendo interligar Ásia, Oriente Médio e Europa, possibilitando alternativas às saídas marítimas, principalmente para trazer petróleo do Irã e gás da Rússia. Portanto, a Eurásia é importante para o projeto imperialista, dominando a atual “heartland” através de uma possível aliança expansionista, teriam acesso a grandes rotas.
Revista Militar, 2014. As Regiões Geoestratégicas e Geopolíticas, de Saul B. Cohen. Disponível em: https://www.revistamilitar.pt/artigo/914. Acesso em: 1 set de 2021
FONTES: G1, O POVO, BBC, EL PAÍS
REFERÊNCIAS:
G1, 2021.Chanceler chinês diz para EUA que mundo precisa ‘guiar positivamente’ o Talibã. Disponível em:https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/08/29/chanceler-chines-diz-para-eua-que-mundo-precisa-guiar-positivamente-o-taliba.ghtml. Acesso em 1 set de 2021
O Povo, 2021. Talibãs se comprometem com centenas de países a continuar permitindo saídas do Afeganistão. Disponível em: https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/08/29/talibas-se-comprometem-com-centenas-de-paises-a-continuar-permitindo-saidas-do-afeganistao.html . Acesso em: 1 set de 2021
BBC, 2020. Heartland: como um geógrafo do século 19 desenvolveu a teoria que rege a geopolítica atual. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51165319. Acesso em : 1 set de 2021
El país, 2021. China e Talibã consolidam aproximação. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-07-29/china-e-os-talibas-consolidam-aproximacao.html. Acesso em: 1 set de 2021